Presente de Aniversário II por José Geraldo Wanderley Marques
Presente de Aniversário II por José Geraldo Wanderley Marques
Sou poeta, não nego
Assim nasci, assim me entrego
Se nasci bom se nasci ruim
Essa é outra estória - pobre de mim Que em mim mesmo navego
Noite e dia
Num mar sem fim
Pobre marujo do eterno
A bracejar entre versos
- Brancos e pobres versos! -
A rimar com o que não rima Por estrofes que me atravessam
Pelo avesso
Sou poeta, não nego
E é o nada do todo
O que declamo
Não reclamo
Das musas escravo
Não passo de um peregrino
A percorrer estradas de vocábulos
Condenado a ser menino
Eternamente
Como Prometeu ou Sísifo
Preso a rochedos
A ver abismos
Ou a carregar pedras
Que sem avisos
Atravessam-me o caminho
Como o fizeram a Drummond
Ou então, tal qual um João
Cabral de Melo Neto
Vou aprendendo a ler A lição das pedras
Nas próprias pedras
Que carrego
Sou apenas um mau poeta
Que ao te ver verseja
Não passo disso: Sou tudo isso!
Aceita pois mais estes versos
Que a soletrar aleijo
E se me respondes como a um desejo
Meu coração vira todo um céu
E eu te festejo!
José Geraldo Wanderley Marques