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Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes

Adelson Isaac de Miranda

Cadeira Nº 1
Adelson Isaac de Miranda

Adelson Isaac de Miranda

Cadeira Nº 1

✩1930 †1995

Quando rebusco um pouco da história de minha infância vejo um garoto humilde que se criou entre a macambira e o alastrado, aliando as tarefas do curso primário à labuta da roça, no cultivo das lavouras de sustento, “matando a fome” com rapadura, farinha, carne do sol e queijo de coalho, lembrando que nem sempre havia a disponibilidade de todos os itens. Além disso ainda tinha que enfrentar o sol escaldante do sertão, percorrendo as tortuosas veredas do Riacho Grande (hoje Senador Rui Palmeira), tangendo um jumentinho carregado com 04 ancoretas, em busca de água de potabilidade precária, para saciar a sede de nossa família. 

Inimaginável seria admitir a possibilidade de estar hoje fazendo esta crônica, para registrar a oportunidade de me tornar membro da Academia Santanense de Letras Ciências e Artes. O feliz advento do Portal Maltanet despertou o sentimento de enveredar pelo caminho da escrita – ideia que se encontrava latente – fazendo manifestar, em mim, o atrevimento de materializar um objetivo não aflorado, até então. 

A importância do Portal foi fundamental porque, graças a essa feliz iniciativa do nosso amigo José Malta Fontes Neto, consegui passar para o papel algumas divagações que teimavam povoar o meu imaginário, as quais, inicialmente, foram publicadas nos livros “À Sombra do Umbuzeiro” e “À Sombra do Juazeiro”, compostos por uma plêiade de autores santanenses.  Por outro lado prevaleceu, também, o estímulo do amigo e escritor Djalma Melo Carvalho, dando-me o privilégio de inserir minha crônica Djalma Carvalho – Um Exemplo, na “orelha” do seu livro Chuva no Telhado, lançado em uma cerimônia do mais alto gabarito, realizada no salão nobre de um dos mais suntuosos hotéis da orla de Maceió. Naquela oportunidade fiquei muito lisonjeado em ter visto meu nome citado por “pesos pesados” da literatura alagoana, como Dr. Romany Roland Cansanção Mota, Escritora Enaura Quixabeira Rosa e Silva e Dr. Cláudio Antônio Jucá Santos.

Dando continuidade à minha audácia no campo das letras, consegui publicar meu primeiro trabalho “Saudade, Meu Remédio é Contar”, sobre o qual afirmei que seria primeiro e único, fato contestado pelo Djalma Carvalho, responsável pelo prefácio, quando fez questão de afirmar que “minha produção  literária não encerraria com aquela obra”. A predição do prefaciador foi concretizada, visto que conquistei o triunfo de lançar “A Saga da Família Sorriso” e “A Vitória da Persistência”, sendo este uma coletânea de participações de um grupo de muralistas do Portal Maltanet, numa  luta gloriosa para a concretização do sonho de dotar nossa Santana do Ipanema de um Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia-IFAL. Prosseguindo com a minha teimosia, ressalto que a quarta produção já se encontra em “estado de ebulição”.

Convidado a participar de uma cerimônia literária em nossa cidade, o Dr. Cláudio Antônio Jucá Santos, Presidente da Academia Maceioense de Letras, ficou empolgado com a elevada condição cultural da terra e, de imediato, firmou um compromisso com a então prefeita municipal, Dra. Renilde Bulhões, no sentido de fundar nossa academia de letras, ideia que foi concretizada dentro do prazo previsto. O êxito da realização teve, mais uma vez, a participação e o dinamismo do empreendedor José Malta Fontes Neto o qual, por merecimento, foi eleito primeiro presidente da Academia Santanense de Letras Ciências e Artes. 

  Concluída a formação da academia, foi definida a lista dos primeiros patronos, escolhidos para compor as cadeiras, cujas indicações recaíram sobre significativas personalidades de nosso município que se destacaram, ao longo do tempo, nos mais diversos segmentos de nossa sociedade. Para meu gáudio, tive a honra de ser escolhido para ocupar a cadeira nº 1, que pertenceu a Dr. Adelson Isaac de Miranda, um dos maiores vultos da história de nosso município. A momentânea euforia causada pela indicação tornou-se, de repente, “uma pedra no meu sapato”, porque teria que narrar um pouco da sua biografia. 

Iniciando a pesquisa, me deparei com uma definição do meu amigo, jornalista e empresário, Antônio Noya (Toinho de “seu” Edmundo), na “orelha” do livro “Minha História de Amor e Saudades”, de autoria de meu patrono, publicada “pós mortem”, onde ele diz: “O Dr. Adelson Miranda, homem de inúmeras qualidades, que fincou raízes em Santana do Ipanema em 1957 e faleceu em 1995, deixou marcas indeléveis para seus contemporâneos com seu jeito alegre e tranquilo de ser. Liderança no sertão alagoano, era respeitado e consultado em todos os movimentos sociais e políticos da região.” Esta asserção do Toinho é uma realidade, mas minha pretensão exigia, pela importância do focalizado, para que eu fosse mais além.

Adelson Isaac de Miranda nasceu em Garanhuns, estado de Pernambuco em 18 de junho de 1930, filho de Apolônio Isaac de Miranda e de Lindinalva Álvara Tenório de Miranda. Formou-se em odontologia pela Faculdade de Odontologia  de Juiz de Fora, Minas Gerais, em 12.12.1956.

Um acontecimento social promoveu a aproximação de Dr. Adelson com Santana do Ipanema. Em face de sua irmã Mirzes Miranda ter contraído núpcias com o empresário santanense Everaldo Noya  Rocha, nosso focalizado passou a visitar, com frequência, nossa cidade e nessas idas e vindas pode observar a carência de profissional da sua especialidade neste rincão. Após sua chegada, de forma definitiva, ele se aclimatou com rapidez aos costumes do lugar e, diante de sua facilidade de integração, começou a participar das atividades sociopolíticas do nosso município.

 Na época, por conta da precariedade da energia elétrica fornecida, houve um movimento popular no sentido de dotar Santana do Ipanema de força e luz de melhor qualidade. Para divulgação da campanha, Dr. Adelson, juntamente com Geraldo Bulhões, Eraldo Bulhões, Darras Noya, Aloísio Ernande, Antônio Noya, Nestor Noya, os irmãos Mário e Hugo Rego, entre outros, criaram uma emissora de comunicação, que foi denominada Rádio Candeeiro, a qual funcionava em uma dependência do seu consultório odontológico. A luta foi vitoriosa, visto que, algum tempo depois, o objetivo foi alcançado.

Em sua caminhada, Dr. Adelson sempre se destacou como uma das pessoas mais influentes de sua época, como professor e diretor do Ginásio Santana, como presidente do Rotary, como também à frente da maioria dos movimentos socioculturais de nossa comunidade.      

Casou-se com Vilma Carvalho Rego, filha do comerciante Izaías Vieira Rego (descendente de Martinho Vieira Rego – fundador de Santana do Ipanema) e da educadora Hilda Carvalho Rego (responsável pela formação de muitos filhos da terra, exercendo as funções de professora e de diretora, do ensino básico). Da união nasceram Airles, Cheops e Jacob (gêmeos), Adelsinho  e  Vaninha. Os filhos, detentores de formação acadêmica, se tornaram excelentes profissionais nas carreiras abraçadas: Airles, engenharia; Jacob e Adelsinho, medicina; e Vaninha, administração. Cheops, que escolheu a odontologia – o único a optar pela especialidade do pai – teve a carreira interrompida, por conta de uma fatalidade que ceifou sua vida, de forma prematura.   

O nível de desprendimento de Dr. Adelson era, também, uma de suas grandes qualidades. Recordo-me que nos finais de semana a Fazenda Boi Tatá se transformava em “balneário” para os santanenses mais próximos, onde o pessoal se esbaldava nos banhos proporcionados por um pequeno riacho, que regava sua propriedade. Os frequentadores se encarregavam de levar iguarias das mais variadas versidades (buchadas, churrascos, guisados de boi, porco e carneiro, etc.) e bebidas do gosto de cada um. Na época da safra, eram todos agraciados com saborosos cajus, degustados juntamente com talagadas de Pitu, mistura preferida pelos apreciadores.

Vale ressaltar que o homenageado trilhava, com desembaraço, pelos caminhos da literatura, conforme enfatiza seu amigo Celso Caldas: “É certo que a leitura sempre foi uma marca registrada do Dr. Adelson, não apenas pela sua formação acadêmica, mas, sobretudo, por sua participação ativa no contexto social e cultural dos ambientes em que viveu.” Dr. Adelson teve seu livro publicado 10 anos depois da sua morte. Os originais foram entregues pelo autor, em 18.05.1995, ao Dr. Guilhermino Nonato Cardeal para revisão, o qual também foi encarregado pela elaboração do prefácio. Desafortunadamente no dia 20.05.1995 – dois dias depois da entrega – o escritor veio a falecer, de morte súbita, deixando em todos que privavam de sua amizade uma lacuna impreenchível. Por consenso da família, em época oportuna, foi convidado o Sr. Celso Caldas para analisar os textos e ordená-los para a formatação da obra. O título seria, a princípio, “Reminiscências de Dr. Adelson Isaac de Miranda”. Todavia, de acordo com a sugestão do Sr. Celso, corroborado por Vilma, esposa do autor, foi alterada a designação para ‘Minha História de Amor de Saudades”.

Pretendendo demonstrar o poder de reflexão e o senso de observação de Dr. Adelson, permito-me transcrever citações recolhidas do seu escrito:

 “Quando observo que um amigo anda introspectivo, ausente, agressivo ou inquieto, sinto que o momento exato da minha presença é chegado. A indiferença é a arma dos insinceros” 

 “Em minha reflexão a harmonia, o amor e a paz entre os homens não foram alcançados desde o início da formação dos povos até os dias atuais.”

“Faço por onde ser reconhecido como verdadeiro amigo de meus amigos. Jamais duvidei de que os amigos existem.”

“Ir mais longe, arriscar, é comigo mesmo. Copiei do velho Apolônio, meu pai.”

“Perdão, caro poeta Augusto dos Anjos, discordo de vosmicê: graças a Deus, em certa fase, em um determinado estágio da minha existência, convivi entre feras e não senti necessidade de também ser fera.”

 “Desde que eu não tenha feito nada para os outros, o que eu fiz apenas para mim não tem importância nenhuma.”

“Se é para ajudar alguém, vamos ajudar depressa.”

“Tirem do homem os sentimentos e a alma profunda e restará apenas um amontoado de músculos e ossos aguardando voltar ao pó que era.”

Para finalizar esta árdua missão de explanar sobre a extraordinária personalidade de Dr. Adelson Isaac de Miranda, tomo a liberdade de registrar a mensagem por ele deixada para seus amados filhos:

Meus filhos, 

“Tomem sempre atitudes dignas na vida de vocês.” 

“Aprendam a amar e fazer justiça.” 

“Nunca usem da brutalidade.” 

“Vale mais a compreensão. Procurem compreender até mesmos as ingratidões.” 

“Usem da bondade, mas não se deixem passar por tolos.” 

“Sejam enérgicos, quando necessário.”

“Sejam amigos de seus amigos, de seus familiares e saibam ser amigos de verdade.” 

“Não permitam jamais que a mãezinha de vocês trabalhe para sustenta-los. Vocês têm o dever de amparar a velhice dela.”

“A união entre irmãos deve existir acima de tudo e de todos.”

“Os piores momentos, os mais difíceis, não devem amedrontar. Devem ser enfrentados.” 

“Conforta pensar em Deus.”

Obrigado, meu patrono, por me proporcionar este privilégio.


Recife, setembro/2017