Logo da ASLCA

ASLCA

Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes

Hermídio Firmo de Melo

Cadeira Nº 15
Hermídio Firmo de Melo

Hermídio Firmo de Melo

Cadeira Nº 15

†1951

A segunda casa do lado esquerdo do sobrado do Cel. Manoel Rodrigues da Rocha pertencia ao excêntrico Hermídio Firmo, homem casmurro, esquisito, que vivia em uma casa imunda, cheia de teias de aranha, sapos, lacraias e que jamais saía de casa, passando a vida inteira a construir \"Mané-gostoso\" - boneco engonço, articulado com dobradiças fazendo com que fique \"desengonçado\" e preparando o seu presépio de natal. A sua psicose era o presépio do Padre Bulhões e o desejo de superá-lo nos arranjos natalinos. Tempos mais tarde, quando o escritor Breno Accioly o transforma em personagem no conto \"Natal do Seu Hermídio\", expressa com os olhos encantados da infância a beleza do presépio e a figura indecifrável do Seu Hermídio. (Edilma Acioli Bomfim, Razão Mutilada - Ficção e loucura em Breno Accioly)

O presépio de Seu Hermídio era uma gama de molas invisíveis. Se se pusessem quinhentos réis no buraco de uma salva de papelão, colocada à direção Norte, o Menino-Deus acordava e ver-se-lhe o azul dos olhos sorrindo, enquanto Nossa Senhora balançava a cabeça, agradecendo liturgicamente, São José levava a mão direita até as barbas (não sei por quê), enquanto os cavalos dos três Reis Magos faziam menção de galopar pela estrebaria adentro. ( Breno Accioly, João Urso)

Segundo o escritor Oscar Silva, Hermídio Firmo viveu toda a sua existência em Santana e sem sair de casa para parte alguma. Autodidata, aprendera escultura, desenho, pintura e até bordado, confirmando assim a opinião de Van Lonn quando diz que \" o verdadeiro artista é quase sempre um indivíduo solitário\".

O escritor Oscar Silva, em seu conto \"Cinzas de um carnaval\" relata outra habilidade de Seu Hermídio durante os festejos carnavalescos na cidade: \"(...) Depois, eram as visitas à casa de Hermídio, o rapaz que não punha a cabeça fora da porta mas sabia fazer como ninguém umas cabacinhas cheirosas. Ficávamos a olhar o Hermídio derreter a cera, meter-lhe dentro aquelas forma de madeira parecidas com bilros, a cera talhando, enxugando e secando a ponto de soltar de cada forma facilmente uma banda da cabacinha. E só saíamos dali quando víamos uma série de bolinhas brancas, azuis, ou encarnadas, bem fechadas e cheias de água-flórida.\" Oscar relata que desejava escrever uma crônica a respeito de Hermídio, mas sua saída brusca de Alagoas o impediu de retornar a Santana em busca de informações que ainda lhe faltavam. (Oscar Silva, Fruta de Palma).