Maestro José Ricardo Sobrinho
✩1919 †1947
José Ricardo Sobrinho nasceu em Santana do Ipanema, em 23.02.1919, filho do casal Aprígio Ricardo e Maria Vieira Ricardo. Aos 04 anos já demonstrava seu talento musical no Sítio Lage Grande, onde seu pai criava gado, cultivava lavouras de feijão, milho, algodão e desenvolvia a apicultura.
Dentre as várias festas populares do Sítio Lage Grande, as bandas de pífano encantavam o menino que as acompanhavam entusiasmado. Certo dia, dona Maria Vieira, sua mãe, surpreendeu-o com uma modinha muito estranha, composta por ele aos quatro anos. Um palavreado ritmado que se encaixava exatamente no ritmo tocado pela banda de pífano.
José Ricardo, filho único, dirigia desde os 14 anos o caminhão de entrega da fábrica de sapatos de seu pai. Nas horas vagas, estudava música na casa do maestro Miguel Bulhões.
Em poucos anos, José Ricardo tornou-se um jazzista do pistão, instrumento com o qual teve maior afinidade, embora tocasse outros com igual habilidade. Passou a ser chamado de “mágico da música” pela facilidade como lidava com os instrumentos, revelando-se precoce compositor de reconhecido talento.
Partiu para Recife para aprimorar seus conhecimentos, concluindo com louvor seus estudos acadêmicos em música clássica e popular. Com diploma de professor, inteligência e esforços, retornou a Santana com o firme intuito de montar e reger orquestra com o incentivo e apoio do maestro Miguel Bulhões.
Aos 17 anos havia se tornado professor e maestro. Em 1937 a filarmônica Santa Cecília já estava formada sob a regência do maestro José Ricardo. Na praça central da cidade havia sido construído um coreto, onde se ouvia, nos fins de semana belas exibições da banda.
José Ricardo e Iluminata Barros Farias, casaram-se novembro de 1938. Da união nasceram os filhos: Maria da Assunção, José Nilton, Maria do Socorro, Maria Júlia e José Newton. Em 1940, o maestro formou um conjunto de moças escolhidas da sociedade. A notícia inédita no sertão ganhou as plagas distantes. Participavam as filhas do comerciante Felisdoro, Maria Aleixo e sua irmã, Gercina, Josefa Chagas, Leuzinha e Maria Cavalcanti. O conjunto de moças se apresentavam em bailes, saraus, em festas de padroeiros e dia da juventude. O sucesso se propagou. O grupo sob a regência do maestro era convidado para se apresentar em muitos lugares.
No período 1944-1945 foi contratado pela prefeitura de Palmeira dos índios para fundar o primeiro orfeão municipal. Além da arte do canto, também aprendiam a tocar violão, piano, violino e outros instrumentos. Participavam 150 alunas. O orfeão se apresentava nas festividades educacionais e cerimônias religiosas. No Natal e na quaresma, com cantos gregorianos.
Em fevereiro de 1947 o maestro havia sido contratado pela prefeitura de São Miguel dos Campos. Era ano de eleições municipais. O baile do prefeito e apoiadores seria animado pela orquestra de José Ricardo, famosa por sua diversidade musical, conquistava maior público.
Desafetos do prefeito se infiltraram no baile e, fingindo-se de amigos, convidaram-no com alguns músicos para comemorarem no bar do clube. A bebida oferecida estava envenenada. Quatro músicos beberam o veneno. Os políticos atingiram seus objetivos. Os músicos não aguentaram continuar tocando ao retornarem ao palco.
Maestro deixou o baile carregado e sem conseguir respirar. Em decorrência das complicações do envenenamento o maestro faleceu em abril de 1947, aos 28 anos. Uma fatídica e irreparável perda para os familiares e toda região sertaneja. Santana do Ipanema chorou a perda do poeta e do maestro.
(Maria do Socorro Ricardo Farias, \"Um mágico da música\", 1997)