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Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes

Tadeu Gonçalves Rocha

Cadeira Nº 28
Tadeu Gonçalves Rocha

Tadeu Gonçalves Rocha

Cadeira Nº 28

✩1916 †1994

Nasceu em Santana do Ipanema, em 15.02.1916, filho de Coronel Manoel Rodrigues da Rocha e Dona Maria Izabel Gonçalves Rocha (Dona Sinhá Rodrigues), principal comerciante da cidade na transição do século XIX para o século XX, teve educação de elite pautada pelo catolicismo tradicional.

Como “criança privilegiada”, na conotação que lhe atribuiu Oscar Silva, porque estudante do elitista Instituto Tomás de Aquino e porque vivesse num “sobrado de dois andares”, mais “perto do céu”, Tadeu Rocha certamente tinha as antenas ligadas no cotidiano do seu povo e na singularidade da sua terra, desde os tempos em que “à tardinha, descia para o passeio e ficava, de uma ponta a outra da calçada, a fazer voltas em seu velocípede”.

Segundo Oscar Silva, Tadeu Rocha e José Maurício Medeiros (Zezinho) eram os dois meninos que mais lhe pareciam felizes em Santana do Ipanema. Sem o saberem, tornaram-se seus ídolos e constituíam aquilo que ele mais desejava ser. Certa feita, no aniversário de Breno Accioly, houve um baile de crianças no sobrado onde negociava a viúva Sinhá Rodrigues, mãe de Tadeu e avó de Breno. Diz Oscar que entrou desconfiado, calçado nas suas servilhas de couro de bode, pôs as mãos para trás e se encostou à parede. Vários dos colegas de escola dançavam com bonitas meninas, entre os quais alguns deles possuíam namoradas. Oscar olhava aquilo e lhe parecia um sonho ter o prazer de valsar com uma garota daquelas. Mas, além de não saber dançar, tinha um medo danado de ser cortado. E, arrastado por esse genuíno complexo de inferioridade, deteve-se a ouvir Zezinho tocar e acompanhar a música em seu realejo de campainhas.

Ainda segundo Oscar Silva, em 1932, Tadeu Rocha já havia deixado Santana e estudava direito na Faculdade de Recife. Em 1952, encontraram-se por coincidência em Santana. Tadeu em gozo de férias e Oscar cumprindo missão do seu trabalho. “Abraçamo-nos, conversamos e ele me convidou para um passeio em Poço das Trincheiras onde iria rever parentes e amigos. Seguimos viagem numa camioneta dirigida por Abel, outro colega e amigo de infância. Aqui, acolá, um trecho do Ipanema, um pedaço de capoeira e uma serra ao lado ou em frente arrancavam de Tadeu, moço cuja cabeça é um globo terrestre, descrições geográficas em que ele tenta provar que tudo aquilo são elos da cadeia ou sistema Borborema. Eu também ia calado em minha ignorância de cadeias e sistemas, o pensamento voltado para aquele Ipanema, que me parecia mais estreito, achando as distâncias mais curtas e sentido que somente as serras e a caatinga não haviam mudado de fisionomia.

        Apesar da formação refinada, perceptível nas próprias recordações que forjaram sua história de vida, os traços da personalidade de Tadeu Rocha foram marcados pela simplicidade, atitude cordial e espírito solidário. Homem afável, humilde, simpático, catalisava as atenções santanenses, transparecendo suas raízes culturais nas matérias publicadas com frequência no Diário de Pernambuco.

Além de jornalista, atuou como docente de Geografia e História, exercendo funções públicas de advogado no Ministério do Trabalho, Justiça Eleitoral e na rede educacional do Estado de Pernambuco.

              Gerou, criou e educou numerosa prole, fruto de três casamentos, dentro de rígidos preceitos religiosos. Do primeiro casamento com Maria Júlia Bezerra Baltar, tiveram os filhos: Abelardo, José Manuel, Tarcísio, Fernando João e Maria Isabel. Viúvo, casou-se com Maria Margarida de Morais Shuler e tiveram os filhos: Ana, Carolina, Gabriel, Flávio, Mônica, Bruno, Rômulo, Sérgio, Valéria e Estêvão. Viuvou em 1972.

               Fundador da Faculdade de Filosofia do Recife e da Escola de Serviço Social de Pernambuco, formou inúmeras gerações de professores da rede pública estadual, lecionando no Instituto de Educação do Estado. 

                Sua obra literária é composta por seis títulos: incluindo dois livros didáticos - Caderno da Geografia do Brasil (1951) e A Geografia Moderna em Pernambuco (1954), um de divulgação cultural - Roteiros do Recife (1959) e três de natureza ensaística - Delmiro Gouveia (1960), Modernismo e Regionalismo (1964) e A primeira escola de Pernambuco (1968).

Por uma triste e providencial coincidência, numa viagem que fez ao Rio, esteve presente ao enterro de seu sobrinho Breno Accioly, juntamente com Sebastião Cavalcante, João Condé e Ledo Ivo, em 1966.

Segundo seu depoimento, em 1965 não lia mais nenhuma palavra, possuindo apenas um décimo de visão. Ainda assim, com o auxílio da esposa continuou pesquisando e escrevendo.

Em 1973, casou-se com Oralda Medeiros, seu terceiro enlace matrimonial.

Em 1990, em texto divulgado no Jornal de Alagoas, edição de 27.01.1990, Sílvio Melo comentou visitas que fez ao escritor: “O fim de 1979 estava aproximando-se. Entardecia o dia 21 de outubro quando visitei o escritor e jornalista Tadeu Rocha em sua casa no Recife, juntamente com o grupo de conterrâneos que organizava a Semana da Cultura do ano seguinte, parte do Movimento Candeeiro que buscou reativar a cultura santanense naquele período. Conversamos bastante sobre cultura, história e Santana do Ipanema. Recebeu-nos surpreso, alegre e comunicativo.”

“Fiz nova visita em 1987 para revê-lo e colher informações sobre a vida do escritor Breno Accioly, também conterrâneo e seu sobrinho. Encontrei-o com a saúde bastante abalada, praticamente sem enxergar e a memória falhando. No primeiro encontro fiquei com o livro “Modernismo & Regionalismo” e no segundo, ganhei o livro “Delmiro Gouveia – Pioneiro de Paulo Afonso”, ambos de sua autoria e de fundamental importância para a história e cultura do Nordeste.”

           Permaneceu intelectualmente ativo, até que foi ceifado pela morte aos 78 anos, 01.11.1994, escrevendo, com a assistência da esposa e dos filhos, cartas aos amigos e eventuais artigos de jornal, na tentativa de fortalecer a identidade santanense.

Valéria Rocha, sua filha, confirmou que parte do acervo fora vendido à Fundação Joaquim Nabuco (Recife), pelo pai e, posteriormente, todo o restante doado.



Abril de 2021


Fontes:

Silva, Oscar, Fruta de Palma, 2ª edição, Cascavel PR, 1990;

Marques de Melo, José e Gaia, Rossana (organizadores), Sertão Glocal: Um mar de ideias brota às margens do Ipanema, Edufal, Maceió, 2010

Melo, Sílvio Nascimento, Jor